Capital, Março de 16

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Hoje não te devería escrever. É que estive de volta de velhas cartas que te enviei e a mim voltaram, num efeito de dor reforçada, primeiro no envio depois na lembrança de abrir a ferida e vê-la sangrar de novo.

É estranho encontrar naquele papel amarelecido as mesmas vontade de agora, a mesma força que me impele a continuar a carregar esta cruz de te querer saber, seja lá onde te perdeste. Que eu sei-te perdido desde o dia em que te vi as costas a afastarem-se num passo lento até muito depois pareceres apenas um pontinho perdido num horizonte e o olhar já nada mais consegue distinguir.

Releio e cheiro estas velhas cartas devolvidas à espera de nelas sentir o teu cheiro a sândalo, uma pequena mancha na tinta esborratada de uma lágrima que tivesses descuidado pingado na saudade de voltares.

Mas nada acho, já busquei todas, juntei-as ao peito e silenciosas como tumulos atei-as no cordel pardo com que as uno.

Um beijo, sim hoje um beijo, porque não?! Se dantes te beijei porque não fazê-lo agora?



(Março/2008)

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