O homem

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Isso.

Fecha os olhos, melhor cobrires o rosto com as mãos e esconderes das luzes o espelho que te escarra a carantonha. Vá lá, coragem! Coragem, homem! Tira a maquilhagem branca e o traço negro que tanta expressão te dá aos sobrolhos repuxados na interrogação de quem ainda tem perguntas para pôr.

E da boca?

Ah!

A BO-CA.

A boca grande que sabe rir vermelho no escarlate que fica agarrado à memória dos que te aplaudem!

Isso, fecha os olhos, esconde a vergonha de não seres tu quando o algodão embebido no tónico da vida à séria te apaga o fôlego de seres quem és. Agora és, agora já não. Perdeste aos poucos pelos corredores estreitos dos anos o engenho da bocarra escancarada no fato de palhaço quadriculado, que isto do palco ao camarim faz-se longo no esconde-esconde de nada haver sem serem as luzes do espelho que te cospe o que não és.

Chora homem, que o palhaço penduras no armário e colado ao vidro-prata alugas a vida a duas metades do que não és.

Fecha os olhos, dorme, o homem já descansa.



(Março/2008)

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